Ômicron é mais transmissível por escapar de vacina e infecção prévia

Dois estudos concluíram que a disseminação rápida da variante não se dá porque os infectados apresentam carga viral mais alta

Por Cristiano Rodrigues 21/01/2022 - 13:19 hs

A variante Ômicron do coronavírus mexeu com o ritmo da pandemia no mundo. De acordo com o último boletim epidemiológico da OMS (Organização Mundial da Saúde), de quarta-feira (19), ela concentra 72% dos casos globais registrados.

Dois estudos, um da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, e o outro da Universidade de Genebra, na Suíça, descobriram que as causas da disseminação rápida da nova cepa estão ligadas à capacidade do novo vírus de escapar da proteção conseguida pela vacinação e por infecção prévia. 

Anteriormente, os cientistas creditavam a velocidade de novos infectados à liberação de grandes quantidades de vírus de pessoas doentes, o que sugeriria uma carga viral maior da Ômicron, quando comparada à variante Delta, predominante no mundo até o surgimento da nova cepa e a segunda que mais aparece nos registros de casos usados pela OMS para elaboração do documento semanal. 

Porém, em análises de testes RT-PCR de pacientes infectados com cepas diferentes, sendo a maioria Ômicron e Delta, os pesquisadores encontraram uma carga viral semelhante em todas as amostras.

 

Em artigo publicado na respeitada revista científica Nature, Yonatan Grad, especialista em doenças infecciosas da Harvard e coautor de um dos ensaios, se surpreendeu: “Eu realmente não esperava ver isso”.

A reação foi similar à de Benjamin Meyer, virologista da Universidade de Genebra, na Suíça, que disse que “naturalmente, pensaríamos que uma maior transmissibilidade deve ser causada por uma maior carga viral".

Nos EUA, os especialistas usaram testes da NBA (Liga Norte-Americana de Basquete Profissional), que faz exames frequentes em atletas e funcionários. 

Já os cientistas europeus mediram o RNA viral e o número de partículas infecciosas em swabs coletados de um grupo de quase 150 pessoas infectadas. Mesmo com um método mais rigorso, os resultados não tiveram diferença significativa entre as cargas virais de indivíduos vacinados infectados com Ômicron e daqueles com Delta.

Implicações no isolamento mais curto

Outro achado dos estudos foi que cerca de metade das amostras seguia com vírus infecciosos cinco dias após o primeiro teste positivo, o que mostra que pacientes infectados com a Ômicron mantinham a carga viral alta o suficiente para ainda transmitir a doença.  

O CDC (Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos) e o Ministério da Saúde do Brasil e de diversos países diminuíram o tempo de isolamento para infectados com a nova cepa e essa decisão pode estar estimulando, ainda mais, o ritmo da pandemia. 

Yonatan Grad e seus colegas ainda encontraram mais carga viral em indivíduos infectados com Ômicron do que em pessoas infectadas com Delta. “Isso significa que não é possível uma abordagem clara que sirva a todos os casos”, disse ele à Nature.

As duas pesquisas foram publicadas na plataforma MedRixv, site de pré-publicação de artigos científicos sobre ciências da saúde que passarão pela revisão de pares, ou seja, de outros cientistas.