Correr descalço traz benefícios ao corpo e pode diminuir lesões, garante especialista

Apesar dos calçados de corrida estarem cada vez mais caros, o contato do pé diretamente com o solo é importante para a saúde

Por Cristiano Rodrigues 21/04/2022 - 06:16 hs

Uma das indústrias mais lucrativas do mundo é a de calçados esportivos. Os tênis são anunciados com tecnologias avançadas de amortecimento e conforto e convencem os aficionados por corrida de rua. Porém, mesmo com os modelos custando cada vez mais caro, a incidência de lesões nas articulações ainda é bastante considerável. Uma das soluções para isso pode ser algo bastante simples: passar a correr descalço.

A tese é defendida por inúmeros especialistas na área, entre eles o personal trainer Samorai, bacharel em Esporte pela USP e criador do método de treinamento 3Dimensional: "As vantagens de correr descalço são inúmeras. Essencialmente você tem um treino mais funcional já para o seu pé. Se você treina melhor o pé, obviamente você treina melhor todo o resto do corpo. Então, você vai usar um treino de corrida para fazer um treino funcional para o pé. E ele acaba se tornando um treino funcional para o joelho, para o quadril, para todo o corpo, porque você desenvolve mais recursos nessa pisada e facilita todas as outras articulações."

Segundo ele, existem vários estudos que mostram que correr descalço pode diminuir o risco de lesões, já que o pé é um dos grandes influenciadores nas lesões corporais e a prática pode ser feita em qualquer tipo de terreno, seja ele acidentado, plano, areia, grama e até na água. Além disso, não existe nenhuma contraindicação, desde que exista um programa para a prática do exercício.

"Como a gente se habituou a andar com tênis, o nosso pé já está destreinado. Assim, se eu sair hoje com meu pé destreinado e colocar nele um impacto muito grande, uma intensidade de treino muito grande, dessa forma essa corrida acaba sendo negativa e vai me trazer problemas. Agora, se eu vou criando uma progressão como em qualquer treino, eu não saio levantando 100kg no supino, eu começo com 5kg, depois vou pra 10kg, depois vou para 15kg, depois vou para 20kg. Aqui é a mesma lógica, eu não preciso sair correndo uma maratona descalço. Mas posso correr 1, 2, 3, 5 minutinhos. E vou fazendo isso por um tempo, daqui a pouco eu aumento isso, aumento a intensidade desses treinos e por aí vai. Ou seja, há uma progressão como em qualquer cenário para que isso seja o mais saudável possível."

De acordo com Samorai, não é certo dizer que correr com calçados é algo prejudicial, apenas que isso destreina os pés. "Os tênis estão ficando mais caros, porque eles estão cada vez com mais tecnologia, mas o problema não está na tecnologia. Estuda-se o pé para entender o que ele faz e aí transfere-se essa responsabilidade para o tênis. Então, quando for correr, ao invés de ser o pé que vai desacelerar o movimento no chão, é o tênis que vai fazer essa desaceleração. Assim, ao invés do pé absorver esse impacto, o tênis vai fazer isso. Aí no primeiro momento você pensa legal, o tênis absorve, então não tem o que absorver, o impacto é o mesmo, então temos que lidar com ele, só que isso destreina o seu pé. Nem sempre você vai estar de tênis, então seu pé vai estar destreinado para fazer isso, e outra coisa, o tênis não faz com a mesma eficiência que o pé", explicou.

Mas como vivemos em uma sociedade que tem suas regras sociais e de comportamento, não é em todo lugar que se é permitido correr descalço. Em outros locais, pode se ter de tudo no chão, desde cacos de vidro, fezes de cachorro, pregos, alfalto ou areia quente, condições que podem cortar ou queimar os pés. E existe também uma solução para isso: a utilização dos chamados tênis minimalistas, calçados projetados para minimizar a interferência no movimento natural do pé.