Detido confessa ter enterrado corpos de desaparecidos na Amazônia

Por Cristiano Rodrigues 16/06/2022 - 09:14 hs

Um dos dois detidos pelo desaparecimento do jornalista britânico e do indigenista brasileiro na Amazônia admitiu ter enterrado seus corpos na floresta, informou, nesta quarta-feira (15), a Polícia Federal.

O suspeito Amarildo da Costa de Oliveira "narra com detalhes o crime realizado e aponta o local onde havia enterrado os corpos", um lugar de muito difícil acesso mata adentro, disse Eduardo Alexandre Fontes, delegado superintendente da Polícia Federal do Amazonas.

Os irmãos Amarildo da Costa Oliveira, o pelado, e Oseney da Costa de Oliveira, Dos Santos

O superintendente da Polícia Federal (PF) confirmou que foram encontrados “remanescentes humanos” durante as buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, que estão desaparecidos desde 5 de junho, na região do Vale do Javari, no oeste do estado. 

Diante da confissão, PF foi até o local do crime, onde foi realizada a reconstituição da cena do crime. Durante as escavações, as equipe encontraram “remanescentes humanos” em uma área de mata fechada.

A corporação informou que os remanescentes estão sendo coletados e serão enviados para perícia para identificação dos corpos. “Sendo comprovados que esses remanescentes são relacionados ao Dom Philips e ao Bruno Pereira, nós vamos restituir mais breve possível às famílias”, afirmou. 

O indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Phillips, correspondente do jornal The Guardian no Brasil, que estão desaparecidos desde 5 de junho, na região do Vale do Javari, no oeste do Amazonas. 

De acordo com a coordenação da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Bruno Pereira e Dom Phillips chegaram na sexta-feira (3) no Lago do Jaburu, nas proximidades do rio Ituí, para que o jornalista visitasse o local e fizesse entrevistas com indígenas. 

Segundo a Unijava, no domingo (5), os dois deveriam retornar para a cidade de Atalaia do Norte, após parada na comunidade São Rafael, para que o indigenista fizesse uma reunião com uma pessoa da comunidade apelidado de Churrasco. No mesmo dia, uma equipe de busca da Unijava saiu de Atalaia do Norte em busca de Bruno e Dom, mas não os encontrou e eles foram dados como desaparecidos. 

- "Fim da angústia de não saber" -

A esposa do jornalista inglês, a brasileira Alessandra Sampaio, declarou que, embora ainda aguarde as "confirmações definitivas", trata-se de um "desfecho trágico" que "põe fim à angustia de não saber o paradeiro de Dom e Bruno".

Hoje, se inicia também nossa jornada em busca de justiça. Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas", completou em um comunicado.

Após dez dias de buscas intensas, as autoridades haviam encontrado vestígios de sangue em uma embarcação do primeiro detido e material "aparentemente humano" que já estava sendo analisado em Brasília. Também foram encontrados objetos pessoais, como roupas e calçados.

O presidente Jair Bolsonaro havia dito esta semana que "vísceras humanas" haviam sido encontradas flutuando no rio, mas essa informação não foi confirmada pela Polícia Federal.

Após o desaparecimento, Bolsonaro qualificou a incursão de Phillips e Pereira como uma "aventura não recomendável" e, nesta quarta-feira, disse que o repórter era "malvisto" na região amazônica por seu trabalho informativo sobre atividades ilegais como o garimpo.

"Esse inglês, ele era malvisto na região porque ele fazia muita matéria contra garimpeiros, [sobre] a questão ambiental", disse o presidente durante uma entrevista nesta quarta ao canal da jornalista Leda Nagle no YouTube.

O desaparecimento de Phillips e Pereira gerou uma onda de solidariedade internacional e voltou a provocar críticas contra o governo Bolsonaro, acusado de incentivar as invasões de terras indígenas e sacrificar a preservação da Amazônia para sua exploração econômica.